Enorme fadiga física e intelectual, incapacidade para estudar, para concentrar-se, para memorizar. Sensações e mal estares diversos como anuviamento da mente, sentir-se embotado. Grande necessidade de dormir. Minha investigação sobre a fadiga crônica, se esteve sustentada pelo que pude escutar em meu consultório, centrou-se na interrogação do quadro pintado por Sibylle Lacan para seu pai. Este quadro foi o que levou Lacan a dizer-lhe: "no século dezenove, diriam que você era neurastênica". Destaco: "quadro pintado". Efetivamente, creio que trata de mimese; imitação da tristeza sustentada por algum traço tomado da imagem do pai. O mimetismo é posto e suspenso, detenção do ato no gesto. Um gesto é algo fetio pra deter-se e ficar em suspenso. O gesto, com gesto, inscreve-se em um antes antes do ato. É esta temporalidade particular, definida pelo termo "detenção", que nos permite distinguir gesto e ato. Porém também destaco: "quadro pintado para". Isto quer dizer que não é sem o Outro, aquele a quem a mensagem se dirige. Se para a Freud a cura das neuroses atuais pareceu que não dependia da análise mas de mudanças nas relações onde se desfaz o estatuto do objeto, ou seja, o terreno onde este se destaca. Reunamos as duas afirmações que acabo de fazer - gesto em lugar de ato que permanece impelido + mensagem dirigida ao Outro para que corrija o tiro - e nos encontramos no terreno do que, justamente Lacan denominou "zona de relação": o acting out. O acting out é o âmago da transferência. É a transferência selvagem, transferência sem análise; enquanto o acting out sem análise é a transferência. A questão é como organizar a transferência, como domesticar a transferência selvagem, "como fazer entrar o elefante selvagem no cercado, com pôr o cavalo para dar voltas no picadeiro." Trata-se definitivamente, de que um dizer que não fala comece a falar.
ISBN-10: 9788585717834ISBN-13: 9788585717834Páginas: 256Subtitulo: AS DOENÇAS DO SÉCULOEdição: 1a EDIÇÃO - 2004Data edição: 2004-09-06 00:00:00Autor: CANCINA, PURA H.