Nos 18 capítulos de "Esquecidos e superestimados",o crítico literário Rodrigo Gurgel dá continuidade ao projeto iniciado com "Muita retórica - Pouca literatura (de Alencar a Graça Aranha)" e relê alguns dos principais prosadores do Brasil.Sem o intuito ranzinza de resgatar autores desconhecidos contra escritores que se tornaram celebridades,Gurgel revisita Coelho Neto,Olavo Bilac,Lima Barreto,Euclides da Cunha,João do Rio,Monteiro Lobato - e também os pouco lembrados Carlos de Laet,Valdomiro Silveira e Hugo de Carvalho Ramos,dentre outros.Como fez em seu livro anterior,o crítico se recusa a repetir,com nova camada de verniz,antigos julgamentos isto é,não faz arqueologia crítica.Ao contrário,convida o leitor a participar de um diálogo erudito e estimulante.Quem se volta contra a tradição acaba de um modo ou de outro se contaminando com o que dela há de pior,com a sua caricatura.E nesse complexo de Adão,os abusos formalistas,mais a crescente desfiguração da linguagem,com a posterior bênção acadêmica e sua formulação em decretos educacionais,criaram o isolamento do escritor que primeiro se ressentia de sua marginalização e depois a tornou numa ética - com licença da rima - de sua estética.Contra uma prosa que se pretende literatura porque se afasta do chão comum de cada dia é que se insurge,em continuação ao Muita retórica Pouca literatura,Rodrigo Gurgel,que denunciou a cumplicidade da própria crítica literária nesse vício.Rodrigo Gurgel,diga-se,não escreveu esta obra com o intuito ranzinza de resgatar autores desconhecidos contra os escritores que se tornaram celebridades,o que seria outra forma de manifestar a sanha de originalidade dos modernistas,sob disfarce de arqueologia crítica.Está se falando,sim pautado em princípios pedagógicos e de independência crítica,sem as comodidades ideológicas,de ter curiosidade por saber o que foi produzido,de querer saber o que realmente diz o texto.Jessé de Almeida Primo (Trechos do Prefácio,Literatura e verdade).