A ignorância da morte (selo Escrituras) é o primeiro volume de poemas do autor português publicado no Brasil. Com sua linguagem sóbria, discreta e silenciosa, António Osório fala de saudade, do amor aos pais, das lembranças de sua vida e seus “mortos” – Guardo bem / os meus mortos: / numa pasta de arquivo. / Pai, Mãe... - Um amor obstinado que passeia pela sua poesia de uma forma dolorida, mas, ao mesmo tempo, saudosa e controlada. Fala com humildade das coisas e dos seres que cercam sua poesia.Sua expressão poética é uma música de câmara, discreta, quase silenciosa, interior (...) uma missa em voz baixa, em que os silêncios alimentam as palavras de sua imensa reserva de ser. Há em sua narrativa a presença do constante regresso às suas origens, o que, como nas tribos primitivas, é uma forma de cura, de recuperação de forças. Na primeira parte do livro, Aldeia de irmãos, o autor fala de coisas da terra, de raízes, da volta ao nascimento, reproduz questionamentos e cenas de sua infância. O sentimento de interioridade é uma constante nesta primeira parte.Na segunda parte, fica clara a forte ligação com a mãe, a vontade de voltar no tempo e se sentir protegido - Na rua de repente ocorre-me / ir a tua casa – ver passos / trôpegos, o copo de leite, / os teus biscoitos, refrescos / de ginja, papas de milho – as calorosas lembranças de viver junto aos pais. No poema Ainda me acolho, o autor confessa seu apego às coisas que ficaram de seus pais, a madressilva, o cedro, até mesmo as marcas de dedos nas portas, possuído de uma enorme nostalgia. Tudo para que se sinta acolhido, para que não se sinta sozinho. Há ainda a lembrança dos avós que também se foram.Tudo é silêncio e convite à meditação nesses poemas em que o poeta se funde à poesia para com ela formar uma túnica sem suturas. Sua obra é uma visita ao tempo perdido, à infância, aos mitos, ao amor.