O romance Batalha no Vale do Sol de Mari Mendes é uma narrativa épica e fantástica do Brasil contemporâneo cujas personagens se encontram em mutação. São mulheres, homens e crianças da classe trabalhadora sem trabalho decente e sem-teto das periferias urbanas. A jovem Madalira, mãe solteira, percebe o brotar da arruda em seu peito assim que se descobre uma nova mulher, ao lado de tantas lutadoras, como Nita, Beguina, Doralice, Josiane, Talisca. O guardador de carros Saimon, depois de ser espancado pela polícia, se percebe mártir cujas dores abandona ao levitar. O encontro de Madalira e Saimon marca o ponto de mutação da comunidade da ocupação Vale do Sol.
A autora divide o romance em três momentos: Livro de Madalira, Livro do Levita e Livro do Vale do Sol. A voz ativa de Madalira e a rejeição ao sofrimento de Saimon são incorporados à trama. Ao se descobrirem como sujeitos de direito, as mulheres, os homens e as crianças, já organizados para a lida do dia a dia comunitário, precisam decidir se devem e se conseguem ou não resistir ao despejo violento da tropa de choque. É nesta última parte que toda inteligência, coragem e humanismo de cada uma das personagens são revelados na ação coletiva.
Uma literatura instigante, atual e crítica para a leitura individual e coletiva nos movimentos populares. Um incentivo para a produção literária de mulheres trabalhadoras, com um olhar profundo e aguçado para vencer as contradições de gênero, classe, e raça nas lutas sociais. Um reencantamento da utopia por um mundo de igualdade como no Vale do Sol.