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Livro finalista do prêmio Laura Orvieto 2019 e vencedor do prêmio Orbil 2020.
Em 1944, em meio à II Guerra Mundial, na Itália dominada pelo fascismo, um menino de 13 anos, Martino, mescla fatos que ocorrem na realidade com a fantasia de uma corrida de bicicleta inventada por ele. Um dia, o menino é encarregado de ir a uma cidade maior nas proximidades para comprar um remédio para a mãe, adoecida. Então seu tio, um antifascista que conspira contra a presença dos alemães na região, lhe confia uma missão secreta: receber um pacote que lhe será entregue pelo dono de uma osteria.
— Você chama de patriotas, vovô, outros chamam de bandidos.
— Depende de que lado se escolhe ficar. Porque essa é uma guerra que te pede para escolher: ou aqui ou lá. Essa é uma guerra que divide.
— É como no ciclismo: tem quem torce por um e quem é contra ele. Quem está com Coppi e quem está com Bartali.
Meu avô suspira.
— Às vezes penso que você tem uns óculos em forma de bicicleta: uma minúscula bicicleta sobre o nariz, com as rodas na frente dos olhos como duas lentes. Porque tudo o que acontece à sua volta, você vê assim, através das rodas de uma bicicleta!
Caio na risada, porque a imagem de uma bicicleta sobre o nariz me diverte.
Logo, porém, percebo que meu avô permanece sério e compreendo que suas palavras não soam como uma brincadeira, mas como uma repreensão.
— Isso é um defeito, vovô?
— Quem usa óculos usa sempre por causa de um problema nos olhos. Ou para não ser cegado por uma luz forte demais. Mas eu te entendo, porque não é fácil aguentar todo esse mal que está em cima de nós, não é fácil para ninguém.
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