Já consagrado no meio acadêmico como professor de Física, pesquisador e ensaísta, Francisco Caruso acaba de adquirir uma nova persona: poeta. Tudo aconteceu em função de uma sofrida ruptura amorosa com a mulher amada. Caruso teve uma espécie de epifania literária e pôs-se a escrever poemas sem parar, num verdadeiro transbordamento lírico, com imensa vontade de expressar a dor ou o dilaceramento que sentia no coração. Pois muitas vezes a palavra, como um bálsamo, costuma ser necessária para curar feridas, fechar cicatrizes. Ainda mais em se tratando de poesia. Boa poesia. Reunidos em livro, com o título Do amor silenciado, os versos de Caruso formam um cancioneiro coeso, como se fossem obra de trovador medieval dirigida a sua Musa oculta. Não sei dizer de qual deles eu gosto mais. Gosto de todos. Mas posso citar alguns: "A pérola", "A teia", "Mal de coração", "Amor e separação", "Amor tátil", "Incêndio na floresta", "A cama", "O gozo", "Saudade", "Detalhes", "Não posso", "Não mais", "O amor é...", "Seu prazer", "O último beijo". Destaco também a prosa "Nosso sexo". Felizmente Caruso não tem medo do erotismo, porque lida muito bem com ele. De forma apaixonada e ao mesmo tempo delicada. Enfim, Do amor silenciado já nasceu um clássico. E por isso trouxe-me à mente outros clássicos sobre o tema, como os Sonetos de Shakespeare, que louvam um jovem amado e a Dark Lady; Do Amor de Stendhal e suas cristalizações, ou A Arte de Amar, de Ovídio, no qual o poeta latino defende o gozo conjunto. Se Francisco Caruso com este presente tão belo reconquistará ou não a sua amada, não sei dizer, mas com certeza conquistará vários amantes da boa poesia, que também sofrem ou sofreram por amor. Cecilia Costa Jornalista e escritora