A arte popular brasileira vista in loco, com o registro do olhar dos próprios artistas sobre seus trabalhos, era um antigo projeto da jornalista Daniela Name e da fotógrafa Selmy Yassuda. A ideia era fazer uma crônica do artista em seu ambiente, mostrando um pouco de sua história e de sua visão de mundo. A dupla colocou o pé na estrada para captar em letras e imagens os pensamentos e sentimentos destes personagens que, apesar da vida dura que levam, nunca abriram mão de expressar algo que jamais poderá ser tirado deles: sua arte.Espelho do Brasil é um diário de viagem que inclui visitas a alguns dos mais importantes locais de expressão da arte popular - cada vez mais valorizada e estrela de exposições e leilões - divididas em duas etapas: na primeira, conheceram as esculturas em barro e madeira dos artistas de Juazeiro do Norte, no Ceará, e de Alto do Moura, em Caruaru, em Pernambuco. E num desvio do Norte para o Sudeste foram a Taubaté, em São Paulo, conhecer as figureiras que têm na imagem do pavão sua maior representante. Na segunda fase, Daniela Name e Selmy Yassuda passaram dias emocionantes e calorentos - em meio às máscaras de Cavalhada de Pirenópolis, em Goiás, e às noivas feitas de barro do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.A dupla resolveu abordar em Espelho do Brasil a escultura na arte popular, suporte do primeiro e maior artista popular do país: Mestre Vitalino, cria de Alto do Moura. O mestre deixou como legado, além de suas obras, toda uma geração de artistas como Luiz Antônio e Zé Caboclo - que perpetuou para seus descendentes uma relação única com o barro, que ganhou vida na forma de bonecos e cenas que reproduziam do cotidiano da região e sonhos de seus criadores.Acostumada a usar flashes e vários outros recursos de sua máquina fotográfica, num ambiente controlado, Selmy Yassuda decidiu registrar as imagens usando a luz do lugar, natural. A ideia era justamente captar a vida e o trabalho dos artistas com mínima interferência. Os resultados estão no livro: a casa e o espaço de trabalho de cada um a maior parte das vezes lugar de morada e de criação dividindo o mesmo lugar -, com planos claros e escuros, exatamente com a iluminação com que os artistas dão luz à suas obras. Reflexos da vida e desta gente de carne, osso e barro, de que todos somos feitos.