O livro que leitor tem em mãos refere-se a trabalhos de dois gigantes da literatura brasileira: José de Alencar e Machado de Assis. Todavia, não procura interpretar os autores realizando algum tipo de hermenêutica, muito menos busca perseguir qualquer tipo de essência literária ou verdade textual relacionada à história de suas vidas, nem intenta encontrar qualquer significante oculto; mas o contrário: visa instrumentalizar os textos destacando o que os mesmos oferecem para a potencialização da vida de quem os lê. Quais afetos podem ser mobilizados, aumentados ou diminuídos no leitor, levando-o à alegria ou não. Destaca-se aqui, portanto, uma teoria social das afecções que não esquece de tratar a relação das mesmas com a conservação ou transformação da sociedade. Nesta direção o trabalho ressalta o paradigma estético-político, o qual denomino esquema esquizo, para a percepção das dinâmicas sociais e das formações das subjetividades.
Procuro neste livro experimentar de que maneira o texto enquanto ferramenta funciona, ou não, para o pensamento, e assim, para a vida. De que forma auxilia a produção de novas possibilidades de resistência e linhas de fuga que escapam às forças enfraquecedoras de nossas existências. Não se trata de compreender os escritos literários nem interpretá-los a procura do que significam, mas testar suas articulações, aquilo que podem fazer, seus agenciamentos – assim como se descobre o funcionamento de uma máquina. Coloco-me, portanto, em contraposição às correntes hegemônicas da teoria social, não raro, obcecadas pelo racionalismo iluminista, por um princípio fundante, pelo neoevolucionismo de matriz eurocêntrica, ou pelas supostas causas últimas dos fatos sócio-históricos. Como antídoto a essa sombra identitária setecentista que paira sobre a disciplina, escolho a perspectiva da multiplicidade e da diferença.
Tenham uma boa viagem!