O leitor que agora entra nos domínios deste livro será presenteado com um trabalho de escrita que combina talento criativo e rigor técnico na composição da forma breve. Os contos de Adilson Zambaldi são irresistíveis, detentores do magnetismo das leituras saborosas e cativantes, mas, acima de tudo, peças de ficção nas quais a forma e o conteúdo se associam a partir do refinado encaixe de múltiplas partes como na montagem de um puzzle. Histórias que acomodam histórias dentro de si, que vão se revelando aos poucos, de um modo elíptico e fragmentado, dando novos sentidos ao que foi lido, até chegar a um final fascinante.
Por meio do mecanismo dessa estrutura movediça, o autor opera um processo de desvelamento de cenas nas quais o olhar aparentemente realista sobre situações cotidianas se desentranha em descrições sensoriais, memórias, representações e estados de pensamento. As narrativas exploram de conflitos internos a fraturas sociais, evidenciando a versatilidade temática que ora tem como pano de fundo o tenso espaço dramático da cidade, ora se passa num vistoso cenário selvagem onde vibram as cores e os sons da natureza.
A prosa de frases enxutas, porém marcadas pela potência visual, acentua o poder de imersão, promovendo uma experiência de deslocamento para esses mundos. Conquistado o leitor, Zambaldi o conduz, com maestria, por uma alternância de emoções que, do humor à aspereza do comentário crítico, trata das relações humanas que se empreendem pelos pactos afetivos ou pelo impalpável dos canais virtuais. Inclassificáveis e luminosos tal a ambígua fronteira entre a crônica e o conto, os textos de Fidelidade das araras são retratos plurais da vida.
Sérgio Tavares