Mary Shelley fez parte do grupo principal do romantismo inglês, ao lado de seu amigo Lord Byron e de seu marido, o poeta Percy Shelley. E foi literalmente ao lado deles, em um castelo à beira do lago Constança, na Suíça, onde passavam uma temporada, que ela se isolou em um quarto para escrever Frankenstein, ou o moderno Prometeu, romance gótico ou de terror, um dos modelos do gênero ao lado dos contos de Poe e do Drácula de Bram Stocker.Ao lado disso, e à diferença de seus pares, o livro de Mary Shelley tem uma dimensão a mais, e provavelmente maior, ao ser, em sua gênese, um romance de ideias, ainda que não seja, felizmente, um romance de tese (ou proselitista). A ideia em questão era a desconfiança ou recusa do novo mundo socioeconômico e cultural nascido com a Revolução Industrial? origem, aliás, do próprio movimento romântico.A tecnologia mais avançada da época era, não por acaso, a eletricidade, que começava a ser compreendida e domada através de pesquisas e instrumentos, os mesmos instrumentos e as mesmas pesquisas utilizadas pelo dr. Victor Frankenstein para criar seu novo Adão, ou novo Prometeu, recriando a vida a partir da morte e, portanto, traduzindo pela primeira vez na literatura a expressão brincar de Deus. Claro que não há brincadeira alguma, ao contrário: a tecnologia é um poder neutro e, por isso mesmo, paradoxalmente perigoso, porque não é necessariamente boa (apesar de tampouco ser intrinsecamente má), podendo, então, ser boa ou má, como o próprio desenrolar do enredo de Mary Shelley demonstra (a criatura emerge ingênua para se tornar, por reação a ações humanas, se não ruim, perigosa). A presente tradução foi feita a partir da última edição, de 1881, revista pela própria Mary Shelley.