Como Dante, no meio do caminho da vida, Marcel Proust encontrou-se numa selva escura, debatendo-se em conflitos íntimos, até desvendar o segredo da criação e da permanência. E o tempo, que parecia perdido numa vida aparentemente ociosa, foi recuperado através da arte que ilumina as páginas de ´Em Busca do Tempo Perdido´. O fascínio desse romance, que mostra o itinerário de uma vocação e o seu encontro, reside na escritura que, como a poesia, nos ensina a expressar nossos sentimentos mais profundos diante da natureza, da música, da pintura, da beleza e do espetáculo da vida. O poeta, diz Proust, é aquele que desperta belas-adormecidas em nós e, poder-se-ia dizer, espectros que assombram seus sonhos. Pelo estilo incomparável, carregado de metáforas, as frases ondulantes, cheias de musicalidade, Proust os transfigura e nos faz ver o mundo com os seus olhos de poeta, que nos enriquece e eleva. Não é apenas o homem social que se revela no romance. Estes ensaios de Vera de Azambuja Harvey tentam mostrar o seu eu que contempla o mundo e o recria, enfatizando a importância da arte e dos artistas.