Deveria haver uma lei que proibisse a obscenidade do abandono. Um decreto cheio de artigos, parágrafos, itens e subitens que proibissem a usurpação das ilusões e as fraudes amorosas. Que estabelecesse o direito humano inalienável e incontestável de ser amado pela pessoa amada OBSCENO ABANDONO é um texto visceral e impressionante sobre a solidão. A escritora pernambucana Marilene Felinto, autora do consagrado Mulheres de Tijucupapo - traduzido para o inglês, alemão e francês -, se permite dissecar a dor do amor partido sem pejo, sem salvaguardas, sem vergonha de sofrer e de se reconhecer sofrendo, até um extremo que não se imaginaria suportável. Neste novo romance da Coleção Amores Extremos - que inaugurou um espaço inédito para as vozes femininas de talento no mercado editorial brasileiro -, o leitor irá acompanhar, de corpo e alma, a história de uma mulher abandonada, à beira da loucura e do desespero. A personagem criada por Marilene Felinto, por pouco, nem nome tem. Sozinha, perdeu a identidade e a razão. Tem dias em que acorda com cara de louca. E dias que nem sabe se acorda porque o pesadelo não é interrompido. Arrependimento, maldição, culpas, lembranças e desejos se misturam no desespero interminável da mulher que não aceita ser largada, trocada, preterida. Um corpo vazio, semimorto, que chora, grita e lamenta dia, noite, segunda, terça, quarta... tanto faz. O amor obcecado nada sabe e nada deve saber sobre lógicas, razões, só sente. Sofreu uma injustiça, alguém violou o tal direito humano universal inalienável e incontestável de ser amado pela pessoa amada e, no desespero da rejeição, o repudiado, muitas vezes, precisa tornar-se homem. No homem parece existir uma capacidade maior de equilíbrio. Um homem fica de pé e é isso que ela anseia. Se reerguer, voltar a respirar, ter coragem de abrir os olhos e de sonhar. Mas como? Como se equilibrar sobre duas pernas fracas como as de uma mulher rejeitada? Em OBSCENO ABANDONO, vergonhoso, obsceno, é abandonar o ser que se ama. A palavra dilaceramento se firma como contrapartida eventual da coragem de quem corre o risco, da dignidade da entrega desmedida. A dor é parte, apenas isso, desta mesma grandeza. A pernambucana Marilene Felinto formou-se em Português e Inglês, Língua e Literatura pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo em 1981. De lá pra cá, escreveu os romances As mulheres de Tijucopapo- - traduzido para o inglês, alemão e francês - e O lago encantado de Grongonzo, o volume de contos Postcard, além de um ensaio biográfico sobre Graciliano Ramos. Em 1983, recebeu o prêmio Jabuti na categoria Autor Revelação. Em 1992, foi convidada pela University of California-Berkeley para ministrar um minicurso de literatura brasileira e, dois anos depois, pela Haus Der Kulturen der Welt para participar de um circuito cultural de literatura brasileira pela Alemanha. Em 1998, foi convidada pelo Ministério da Cultura da França para participar do Salão do Livro de Paris em homenagem ao Brasil. Em 2001, seu livro, Jornalisticamente incorreto, foi um dos finalistas do Prêmio Jabuti na categoria crônicas.