Em Os bastidores, Martin Amis recupera períodos sórdidos de sua vida adulta e momentos de alegria e júbilo com amigos e mentores. As obsessões do autor, como a sombra de seu pai Kingsley Amis, também escritor, a rivalidade literária na cena cultural e o desejo sexual em contraste com a vida burguesa retornam em um texto explosivo.
Martin Amis construiu uma carreira literária ousada, com livros que deixaram sua marca pela verve desaforada, como Dinheiro, que trata de uma vida de excessos no auge do capitalismo, e pela coragem em tratar de temas espinhosos, como A Zona de Interesse, que retrata o cotidiano doméstico de algozes nazistas durante o Holocausto. Acossado pelo envelhecimento, Martin, filho do lendário Kingsley Amis, decidiu em Os bastidores encarar o espelho e tentar dar conta da própria vida, em tudo o que ela teve de mais difícil, constrangedor e contraditório.
Neste último livro — híbrido de romance, ensaio e memórias, e que poderia ser preguiçosamente classificado como “autoficção” —, acompanhamos a formação do jovem Martin, que se dá em larga medida graças às pessoas que o cercam, como os grandes nomes da escrita anglófona do século XX, Philip Larkin, Saul Bellow e Christopher Hitchens. Os bastidores, mais do que uma jornada pela cena literária britânica, oferece uma visão íntima e despudorada dos segredos de um homem, num texto que testa os limites do que Amis batizou de “escrita da vida”, gênero que se sentia muitas vezes condenado a exercer.