Uma emocionante história de amor de Janine Boissard, uma das mais renomadas romancistas da França, com mais de 1,8 milhão de livros vendidos no mundo.
Laura Vincent cresceu entre o mar e as macieiras da Normandia. Passou a adolescência à sombra da irmã mais velha. Agathe – a bela – era admirada e disputada por todos os garotos da cidade; Laura – a pequena – passava as noites em casa, lendo romances.
Mas o destino preparou uma surpresa para Laura. Trabalhando como assessora de imprensa de músicos, ela recebe, no dia seguinte ao seu aniversário de 26 anos, a visita do agente de um dos tenores mais famosos do mundo. Ela é requisitada para ser guia dele e seu chefe não deixa margem para discussão.
Rico e bem-sucedido, Claudio Roman viaja pelo mundo emocionando plateias com sua voz. Fã de banquetes, bebedeiras e belas mulheres, ele parece ter tudo o que quer, porém seu comportamento esconde a amargura de nunca poder interpretar Alfredo, em La Traviata, por causa de um ataque criminoso que lhe custou a visão.
Laura está preparada para lidar com um homem difícil e arrogante, mas, assim que ouve Claudio cantar pela primeira vez, ele toca seu coração. Aos poucos, mais do que sua guia, ela se torna também a confidente das noites sombrias de angústia.
Como ela nunca lhe pede nada em troca de seu apoio, Claudio promete lhe dar qualquer coisa. No momento certo, ela cobra a promessa: quer que o cantor se submeta a um transplante de córnea capaz de lhe restituir a visão de um dos olhos.
Apaixonada e convencida de que Claudio não precisará mais dela quando voltar a enxergar, Laura vai embora sem se despedir e sem dar a ele a oportunidade de vê-la. Será que Claudio saberá lidar com essa decisão? Ou ele vai enfim perceber que sempre lhe faltou o alimento mais essencial à vida: o amor?
****
“Claudio Roman mantinha-se agora junto ao instrumento, diante dos olhares que ele não podia ver.
Um gigante aprisionado, eu pensara.
Alto, ombros largos, peito estufado, efetivamente passava uma impressão de força, e em seu rosto, voltado para o público, lia-se um desafio. ‘Não os vejo, mas vocês vão ver só.’
Um desafio lançado às feras?
O silêncio se instalara, o recital começou.
Eu não ousara confessar a David May que não conhecia a voz do grande tenor. Descobrindo-a naquela noite, ao mesmo tempo escura e colorida, sombra e luz, disse a mim mesma que não havia instrumento mais perfeito, mais emocionante que duas cordas vocais em contato direto com a alma.
Ele cantou a serenidade.
Cantou a ferida.
Enxerguei com clareza dentro de mim.
Essa brusca mudança em minha vida, essa impressão de me perder, essa vertigem... E também, em seu quarto, aquela fraqueza enquanto ele explorava meu rosto... Sua voz, ora terna e ardente, ora dolorida e revoltada, me fez compreender tudo aquilo.
Eu ia amar aquele homem. Já o amava.”