A obra de Clarice Lispector descortina, em nossa literatura, um caso singularíssimo de linguagem, estilo, manejo ímpar da escrita criadora e um talento que a faz figurar, sem favor, entre os maiores escritores mundiais que se dedicaram a sondar os subterrâneos da alma humana. Subterrâneos que se revelam, afinal, no cotidiano de pessoas comuns.
Lispector, como se pode ver na gama variada de assuntos tratados nesta coletânea, demarca espaço todo seu no tratamento das complicações da convivência humana: nas relações amorosas, na vida entre pais e filhos e na labuta da mulher. Assim, embora muito já se tenha escrito a respeito das personagens de Clarice, ainda “há uma infinidade de questões que elas suscitam, tamanho é o seu grau de polivalência”, como se lê na Introdução.
A obra de Clarice Lispector descortina, em nossa literatura, um caso singularíssimo de linguagem, estilo, manejo ímpar da escrita criadora e um talento que a faz figurar, sem favor, entre os maiores escritores mundiais que se dedicaram a sondar os subterrâneos da alma humana. Subterrâneos que se revelam, afinal, no cotidiano de pessoas comuns.
Este excelente volume de ensaios que reúne importantes estudiosos (as) brasileiros (as) e estrangeiros (as) especialistas na obra da escritora, é estruturado em três seções: a primeira tem por título Diálogo entre gêneros: sexualidade e textualidade. Nela se analisa a complexidade do encontro entre masculino e feminino, seja focalizando atores masculinos na sua relação com o protagonismo feminino nos romances Perto do coração selvagem, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres e no conto “Os desastres de Sofia”; seja na dinâmica do casal e dos seus limites, em “Os obedientes”. Nela também se observa o questionamento da escolha de um narrador masculino em A hora da estrela e se discutem as personagens dos contos “O corpo” e “A imitação da rosa”, bem como questões ligadas às traduções dos textos claricianos,
incluindo a personagem Clarice nas tramas tradutivas.
Já as seções Figuras das margens e (Des)construções do feminino complementam um magnífico perfil da trama ficcional que o trabalho extraordinário de Lispector legou à nossa cultura e literatura. São examinadas, com rigor, personagens
humanas e não humanas: como Lóri, de Uma aprendizagem..., a pigmeia de “A menor mulher do mundo”, Macabéa (A hora da estrela), Lucrécia (A cidade sitiada), Virgínia (O lustre), empregadas domésticas, Cristina, do conto “Obsessão”, G.H. e a barata de A paixão segundo G.H., a macaca Lisette do conto “Macacos”, as plantas de Água viva, o bandido “Mineirinho”, figuras judias e a própria Clarice retratada nas biografias.
Ao final, as múltiplas perspectivas neste estudo das personagens claricianas formam um inédito e indispensável compêndio de referência em sua imensa fortuna crítica.
Lúcia Helena