“Todo poema/ declara o nosso desaparecimento” — é em torno dessa sentença que Laura Liuzzi, uma das principais vozes de sua geração, constrói seu novo livro. Nele, toda existência — sejam maçãs, estrelas, sonhos, versos ou pessoas — só pode ser plena no exato ponto em que abandona a relação racional que nossa consciência tenta estabelecer com tudo à volta: perto e distante, no tempo e no espaço, dentro ou fora de nós. Com isso, Liuzzi se afasta da escrita autobiográfica que vigora em nossos dias e promove um precioso encontro entre a poesia e o pensamento filosófico.
Poema do desaparecimento, como o título indica, é constituído por um longo poema em que cada parte (ou cena, porque aqui também há muito de cinema nas voltas do pensamento e do olhar) é tecida com a matéria da outra. Mas não deixa de ser verdade que suas partes se oferecem como poemas independentes, em que a percepção do todo também desaparece. Aliás, à certa altura, a própria autora desaparece, e se incorpora ao poema a voz de outra poeta, a paulistana Julia de Souza.
Depois de mergulhar nesse todo deslumbrante em que desaparecer é a forma mais bonita de aparecer, em que tudo pode deixar de ser o que sabemos para se transformar em algo mais surpreendentemente vivo, não é mais possível olhar para o mundo da mesma maneira. Nas palavras de Leonardo Fróes, que assina o texto de orelha do livro, “Laura Liuzzi nos induz, num ritmo que envolve pela espontaneidade e com imagens despidas de qualquer artifício, a vislumbrar como na coesão do todo é que o mundo funciona num desabrochar de miragens, sem depender de explicações ou sentidos que queiramos atribuir aos fenômenos”.