Saiba o leitor: este livro é baseado em fatos reais. Ou, pelo menos, em fatos que poderiam ser, ou que foram ou que serão, absolutamente reais.
Aqui dentro estão reunidos enredos que se mimetizam à dita realidade das coisas e que - quase por conseqüência - mostram-se crus e violentos. Não que se trate de um livro previsível, muito menos de uma daquelas obras que se isolam em buracos de dor, agressividade e nonsense. Nada disso. O que Tailor Diniz, gaúcho de Júlio de Castilhos e formado jornalista em Santa Maria da Boca do Monte, entrega a seu leitor neste Transversais do Tempo é a vida miserável, seca, dura. E frequente.
Jornalista, escritor, cronista e roteirista de cinema, Tailor chega a seu décimo livro reunindo contos e narrativas breves que têm como marca maior a estranheza, essa incrível capacidade que possui a vida de surpreender a todo momento. Habilidoso no uso da tensão como elemento propulsor da narrativa e no efeito dos finais surpreendentes e precisos, o autor dialoga com o gênero policial e de suspense, Assim é em "Rolex de ouro chama a atenção de bandido", em que um assessor de imprensa de uma empresa se vê às voltas com interpelações de seu chefe. Ou em "Letra de tango", no qual o diálogo entre um delegado e um homicida chega à beira do mais completo (e crível) absurdo, Ou ainda em "Pelo avesso", onde a cronologia dos fatos é totalmente revirada ao seu contrário.
Mais do que desenvolver suas narrativas em torno da aspereza cotidiana, Tailor também se revela ume prosador de fôlego, com grande poder de fabulação e um sentido irretocável de solidariedade com seus personagens e leitores — atributos que se constatam, em todos os níveis, por exemplo, no conto "Entre espelhos e sombras", peça de resistência narrativa que fecha o volume de forma lapidar.
Saiba o leitor: este livro é fruto do trabalho de um autor dono de sua arte. A partir disso, tudo pode ser, e é, a mais absoluta verdade.
- Cíntia Moscovich