Dentro do projeto da coleção Sabor Literário, a editora José Olympio publica, pela primeira vez no Brasil, o consagrado escritor espanhol Juan Benet (1927-1993), com seu Você nunca chegará a nada. A obra, lançada na Espanha em 1961, compõe-se de quatro contos: em cada um deles, estão presentes os temas da ruína e da destruição física e moral – porém, trazendo em si uma ponta de esperança.A destruição já fora tema conhecido da vida deste autor desde a infância: tendo crescido em meio à Guerra Ci-vil Espanhola, num ambiente de hostilidades, mortes e destruição, Juan Benet viu sua família participar dos dois lados do conflito, perdeu o pai e foi obrigado a refugiar-se em San Sebastián. A cidade que criou para sua ficção, Région, reflete um tanto de sua experiência: é um lugar seco, descarnado, infértil, onde convivem famílias desestruturadas, des-conectadas emocionalmente. Este “clima árido” perpassa todos os contos, seja na descrição do local, seja nas atitudes e sentimentos dos personagens. O conto “Você nunca chegará a nada”, escrito em primeira pessoa por um narrador chamado Juan, é a his-tória de uma viagem feita anos antes, com um amigo. Sua narrativa entremeia tempo presente e tempos remotos – téc-nica também utilizada nos outros textos –, uma reflexão sobre o sentido daquela busca por não se sabe o quê.Em “Baalbec, uma mancha”, o personagem fora criado por uma mãe pouco afetuosa, que “eu poderia ter acreditado que (...) não se preocupara muito com a minha educação. Durante os meus primeiros anos pereceu me vigiar de longe (...)”. Em “Luto”, a perda da esposa é lembrada por dom Blanco todos os anos, em um ritual triste e contido, através de uma história pouco a pouco retomada, e surpreendente. E, então, “Depois”: a lembrança dos tempos áureos de uma casa e de uma família que, agora, carece da atividade e elegância de outrora. Todos os contos partem de um sentimento hostil para trazer, sutilmente, algo que parece brotar em seus per-sonagens como que fruto daquele ambiente de destruição e morte. Eles respiram o tédio, mas habita neles “uma neces-sidade urgente de paixão”. Depois do encontro com a aridez da terra e com uma geração marcada pela guerra, impõe-se um olhar diferenciado em relação à vida: “Um dia saberá o que é isto, saberá o que é viver, uma coisa que só se sabe quando ela [a morte] ronda o ambiente, porque todo o resto é inútil, é hábito e é passado; o presente, esta parte do tempo arbitrária, irresponsável, cruel, involuntária e estranha a você (...), tão digna de apreço que no dia em que possa sobreviver a ela se fará homem e se saberá viver. (...) Se acha que poderá suportá-la, prove.”