A obra conquistou prestígio e foi publicada em diversos países, entre eles França — onde ganhou elogios da escritora Colette —, Espanha e Japão, e considerada um best-seller em sua poca. Ao contar sua história para um padre, Margarida La Rocque, nascida numa pequena aldeia na França, no século XVI, deseja “lavar o espírito de recordações aterradoras”, a começar pela profecia que a acompanha desde o nascimento, a de que conheceria o inferno em vida. Prossegue narrando o casamento com o aventureiro Cristiano, que partiu numa expedição à América e não retornou, e a decisão de, ao lado da ama Juliana, embarcar numa viagem ao mesmo destino, a fim de obter notícias do marido. No trajeto, envolveu-se com o tripulante João Maria, sem medir consequências. Descoberta a falta, a punição: o exílio de Margarida, Juliana e João Maria em uma ilha remota e misteriosa, conhecida como “ilha dos demônios”. O que nos primeiros dias pareceu uma aventura romântica e exótica desenrolou-se com ares de pesadelo, arrastando Margarida a um vórtice de paixão, medo, culpa e loucura, com a presença de criaturas tão fascinantes quanto assustadoras e um desfecho espantoso. Teria se cumprido a profecia? Publicado em 1949, Margarida La Rocque, o segundo romance de Dinah Silveira de Queiroz, trilha um caminho incomum, ao evocar relatos de viagem quinhentistas, literatura fantástica e terror psicológico, provando ser mais uma obra essencial para conhecer o inegável talento dessa autora. QUEM FOI DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ? Nasceu em 1911, na cidade de São Paulo, em uma família profundamente dedicada às letras. Seu primeiro livro, Floradas na serra, lançado em 1939, tornou-se de imediato um best-seller — a primeira edição esgotou-se em pouco mais de um mês. A obra de Dinah abrange romances, crônicas, contos, artigos e dramaturgia — e a ficção científica nacional teve na autora uma pioneira, uma vez que foi das primeiras escritoras a publicar dois livros de contos nesse gênero: Eles herdarão a terra (1960) e Comba Malina (1969). Faleceu em 1982, aos 71 anos. POR QUE LER ESTE LIVRO? • Mesmo tendo sua última edição lançada na década de 1990, permanece celebrado entre os leitores de Dinah Silveira de Queiroz. • A obra, com características do estilo fantástico, pode ser considerada um sopro de originalidade em seu tempo: no fim da década de 1940, prevaleciam narrativas da fase regionalista do Modernismo, orientadas para a crítica social. • Margarida La Rocque é um exemplo da versatilidade de Dinah: a autora transitou com sucesso por todos os gêneros: o romance e o romance histórico, a fantasia, a ficção científica, o conto e a crônica. • Ao se transportar para o século XVI e para o contexto das grandes navegações europeias, Dinah constrói uma narrativa repleta de tensão psicológica sem perder de vista o encadeamento de uma boa história — é o tipo de livro viciante e envolvente, em que o leitor percorre as páginas ávido por saber o desfecho.