Memorial do cerrado - Filos

Uma trilogia incrível... Um poema... Cada parte e frase deste livro instiga a curiosidade do leitor. Nunes D’Acosta, em poesia, nos conta fatos verdadeiros para não deixar morrer a história dos correntões que destruíram o bioma cerrado, pois a vida não resiste às correntes... Ambiguidade. Correntões e grilhões aprisionam nossas vidas... como as correntes de um rio, nos arrastam... Este romance poema insiste em contar um fato hediondo para vencer a morte... para imortalizar a história do cerrado e de seus habitantes sacrificados à ganância... Contar para não morrer por dentro... para escapar das cinzas que gritam no silêncio do cerrado!

Os seres nasceram para aprenderem a ser livres. Mas, a existência vale as correntes que arrastamos? Quebrar amarras ultrapassa qualquer entendimento. Para alcançar a vida e a liberdade não basta o desejo... o caminho é o de quebrar grilhões com força e intensidade e desprender-se das correntes que foram entrelaçadas aos próprios pensamentos. De amarras soltas, traçamos nosso destino.

Alguns personagens deste livro se imaginavam livres, pois não cometeram nenhum tipo de delito, até que se deram conta das correntes – visíveis e violentas, ou de outra natureza, muito mais sutil, porém com maior poder de aprisionamento e violência. Personagens quase reais, como nós, humanos atados por inúmeras correntes que nos prendem nas cavernas que habitam em nossa alma.

Este livro é uma saga de amor, de violência e morte, mas é, antes de tudo, um resgate do cerrado, de seus habitantes de homens, mulheres que lutaram e lutam por ele, como Maia, Maria, Mãe-Chica, Silvano, Prof. José Hidasi, como Nunes D’Acosta, fotógrafo das espécies sobreviventes, das espécies extintas ou em extinção, das paisagens noturnas, dos rios e amanheceres... A narrativa em prosa de pura poesia combina com a descrição das paisagens, fluxo de pensamento, e a história ficcional (e real?) em tempos diversos. Com estes recursos e com muita sensibilidade e conhecimento do sentir humano, Nunes D’Acosta compôs um romance magnífico! Nos encanta com sua narrativa, na qual, nos dá uma representação adequada da realidade dos viventes que se perderam na destruição do cerrado que foi e já não é mais.

Eduardo Jordão

Jornalista, Crítico de Arte e Escritor

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